O filósofo inglês Roger Scruton em seu documentário entitulado Por que a beleza importa?, disponível no Youtube, cita a frase do arquiteto norte-americano Louis Sullivan “a forma segue a função” como sendo o resumo de uma tendência arquitetônica pós-moderna quando a beleza perde lugar para a função.
Durante a minha graduação em Medicina, estudava angustiado aquela quantidade enorme de manobras e sinais semiológicos, ora ansioso por acreditar ser impossível memorizá-la, ora pensando se aquilo tudo serviria para a minha vida prática. Afinal os tempos mudaram e os velhos semiotas que deram seus nomes estranhos a tantas manobras semiológicas não tinham acesso às maravilhas da tecnologia e vê-los nas fotos com seus bigodes escuros e casacões de veludo me distanciavam ainda mais daquele velho mundo.
Será que a identificação de um sopro cardíaco perceptível apenas pela sutileza de determinada manobra, agora, não viria através de um ecocardiograma? Ou que a identificação da circulação colateral no abdome de uma paciente com hipertensão portal ainda seria necessária em um hospital que tem um ultrassom?
A Semiologia ainda importa?
Felizmente conheci Roger Scruton e então entendi que, assim como Louis Sullivan, nós estamos privilegiando a função à beleza, buscando apenas a utilidade prática dos nossos atos e deixando de lado a arte por trás de Medicina.
Não vou negar a utilidade da tecnologia e dos seus avanços benéficos e muito menos propor que abramos mão dela.
O que precisamos, com urgência, é relembrar que uma manobra semiológica bem feita escancarando diante dos nossos olhos um sinal clínico oculto, ainda que o mistério diagnóstico já tenha sido desvendado pela tecnologia, nos prova num ato inútil que há beleza ao nosso redor. Uma beleza inobservada senão por aquele que consegue tocá-la com as mãos e senti-la com o coração.
Como disse Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray, “Toda a arte é inútil”.
A Semiologia importa.
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