O termo patota é um sinônimo, hoje pejorativo, para turma de amigos ou galera. A maioria dos estudantes, recém-ingressa na faculdade de Medicina, logo arruma a sua. Adultos jovens se tornam melhores amigos, companheiros de festas, dramas e estudo. Eles se agrupam e seguem juntos – a não ser que uma grande decepção os separe – nas glórias e derrotas, até o último dia. Nestes grupos há uma adequação de linguagem, de costumes, vestimentas e, também, de opiniões quanto aos mais diversos assuntos.
Porém, segundo o autor Geraldo Castillo, em seu livro Educar para a amizade, para o sujeito com uma vida psíquica sadia, estar inserido em uma turma é somente uma fase secundária e transitória da sua evolução, enquanto que a supervalorização do grupo pode representar algum tipo de desvio no processo natural de amadurecimento da personalidade. Se por um lado um jovem normal mantém alguma distância na sua identificação com o grupo, retificando e aprimorando suas características pessoais e únicas em um movimento solitário, o estudante imaturo adapta-se servilmente às regras de seu grupo que, comumente, exige obediência cega quanto às opiniões em relação as datas das provas, às qualidades dos professores, aos temas dos trabalhos, à relevância do ciclo básico, aos motivos para as dores e às normas dos ambientes de saúde. Não pode haver divergências com risco de exclusão e assassinato de reputação. São necessários 100% de concordância.
Diante deste cenário, um sujeito fraco sucumbe. Perde sua autonomia e até mesmo a sua capacidade de escolher como, quando e onde vai passar um dia de lazer. Longe dos miguxos, o vazio no peito inunda a alma.
Então forma-se uma patota. Não como uma gangue de delinquentes dos filmes da sessão da tarde, mas como uma que desvia seus integrantes do caminho natural do desenvolvimento pessoal. Castillo diz que este tipo de grupinho é formado por pessoas que se encontram em conflito com os outros, sejam eles os pais, professores, colegas de turma,… adultos em geral. E que com o tempo surge um líder, que pode ser o que bebe mais, pega mais mulher, tem o maior bíceps ou menos receio em experimentar todos os tipos de drogas, ou a mocinha mais agressiva, com menos pudor em expressar desordenadamente todas as suas sensações e uma coragem – meio torta – de enfrentar. São vários os tipos de liderança mas que, independentemente da turma, precisam possuir uma característica patognomômica: a identificação plena com a insatisfação de todos os seus seguidores. Onde há patota, há insatisfação! (Se você não se encaixa no que foi escrito até aqui, ufa!, talvez você tenha somente um grupo de colegas mesmo).
Ah, também surge o palhaço, que pode ser o figuraça que enche a cara nas festas e passa vergonha para que todos achem graça ou a que não tem cuidado algum em contar suas peripécias sexuais ou as consequências do seu sincericídio. O palhaço normalmente ganha um apelido engraçado e não se incomoda em ser o tema das resenhas do dia seguinte.
Com isso aparecem também vários elementos que passam a conferir ao grupo a sua identidade própria, como um local de encontro, gírias e sistemas de cola para as provas. A patota funciona como uma só pessoa. A distorção da realidade progride em alta velocidade e uma tremenda angústia transforma aquele sujeitinho promissor em alguém incapaz de se submeter às regras que dizem respeito ao que vem de fora. A vida acontece no imaginário, onde em uma realidade paralela, surgem as soluções para um suposto mundo injusto e cruel.
No fim, a escolha profissional passa a ser questionada e, durante o extermínio da individualidade, a última que morre é a esperança de haver satisfação real com a Medicina e com uma vida de serviço ao outro.
P.S.: Para as moças de patota, a beleza física é a pior maldição. O amor à própria imagem as deformará por dentro e por fora.