Digite a palavra síndrome no Google e você vai encontrar uma variedade grande de exemplos – Down, Burnout, Estocolmo,… – além de explicações confusas como conjunto de sinais e sintomas de uma doença desconhecida.
O que acontece é que tal palavra é muitas vezes pouco relacionada a algo concreto e útil na vida prática dos profissionais da saúde, apesar da sua total compreensão ser uma urgência médica.
Então o que significa?
Sem medo de errar, a melhor definição de síndrome é um conjunto de sinais e sintomas comuns a várias doenças.
A síndrome da insuficiência cardíaca (IC), por exemplo, é caracterizada por edema e turgência jugular patológica, hepatomegalia congestiva, ortopnéia, dispnéia paroxística noturna, presença de B3 e por aí vai. Tal condição pode ser causada por diversos agentes etiológicos como infarto agudo do miocárdio, miocardiopatia alcoólica, cardiopatia valvar, Chagas,…
Se um paciente de 75 anos e hipertenso há 30 anos, com retinopatia, apresenta um quadro de IC há quatro meses é bem provável que seja uma cardiopatia hipertensiva.
Se uma paciente tem 25 anos abre um quadro agudo de IC após uma gastroenterite, pensar numa miocardite viral é uma boa ideia.
Entende-se que, nos dois relatos, a síndrome é a mesma mas a etiologia provavelmente não é.
Tal raciocínio deve ser estendido para as demais grandes síndromes da Medicina (síndromes da insuficiência hepatocelular, pulmonar obstrutiva crônica, da insuficiência renal, colestática e… abra o livro para estudar).
Mas onde há o material* teórico que descreve o tema com clareza?
Não há.
Pensando neste tema – e lendo o trecho logo abaixo copiado – criei os termos síndrome continente e síndrome precisa.
“Quanto menos precisas forem as definições da síndrome clínica, da entidade nosológica e da hierarquização do diagnóstico diferencial, mais difícil será a escolha e a seleção de exames complementares de maior especificidade e sensibilidade para confirmar o diagnóstico, eliminando os diagnósticos diferenciais não pertinentes” . (Professor Celmo Celeno Porto, autor do livro Semiologia Médica)
Síndrome continente é aquela que tem um único sinal ou sintoma como elemento central e, como uma bússola, mostra a direção a ser seguida. Síndromes anêmica, edemigênica, ictérica e dispneica são exemplos de síndromes continentes. Dentro delas estão contidas as síndromes precisas que, como o Google Maps, indicam um caminho mais exato a ser seguido. Síndromes hemolítica, da hemorragia digestiva, nefrótica, da insuficiência hepatocelular crônica, da consolidação pulmonar, do pneumotórax são síndromes precisas.
Relacione as síndromes continentes acima citadas com as precisas também acima mencionadas. Percebeu algo?
É muito mais consistente chegar a uma entidade etiológica, como numa pneumonia comunitária por pneumococo, definindo a síndrome continente – dispneica – e, em seguida, a síndrome precisa – de consolidação pulmonar- do que pensar em pneumonia imediatamente após a primeira tosse ouvida. Além disto, seguindo tal metodologia com esmero e atenção, mesmo em casos bem simples, você criará uma sequência robusta de raciocínio que irá auxiliar em futuros casos complexos.
E Down? Down é uma entidade etiológica caracterizada pela trissomia do cromossomo 21. Burnout é uma condição mental associada ao esgotamento. Estocolmo é um estado psicológico particular onde o intimidado passa a ter simpatia pelo intimidador. As três condições têm o nome de síndrome mas não são síndromes. Como o meu porquinho da índia que nem é um porco e muito menos veio da Índia.
Em suma, avalie os sinais e sintomas, faça o exame físico, defina a síndrome continente e a síndrome precisa, ordene as entidades etiológicas prováveis para o caso e então o diagnóstico final terá um terreno fértil para brotar.
*Caso encontre tal material, me envie!