O nome Parto Humanizado é um chavão que desumaniza as demais condutas obstétricas. Dispara um sentimento de bem estar como se um grupo de pessoas estivesse lutando pela melhor e inequívoca conduta prática diante de uma gestação; assume que, após analisar profundamente todas as possibilidades de ação concreta, quem é adepto de tal prática realmente está fazendo algo contra um grupo de médicos desumanos; e traz para si – e somente para si – a posse da verdade.
O filósofo Olavo de Carvalho, em seu artigo no Diário do Comércio, de 8 de junho de 2012, intitulado A palavra-gatilho, descreve três traços patognomônicos da linguagem dos chavões.
“A linguagem dos chavões caracteriza-se por três traços inconfundíveis:
1) Aposta no efeito emocional imediato das palavras, contornando o exame dos objetos e experiências correspondentes.
2) Procura dar a impressão de que as palavras são um traslado direto da realidade, escamoteando a história de como seus significados presentes se formaram pelo uso repetido, expressão de preferências e escolhas humanas. Confundindo propositadamente palavras e coisas, o agente político dissimula sua própria ação e induz a platéia a crer que decide livremente com base numa visão direta da realidade.
3) Confere a autoridade de verdades absolutas a afirmações que, na melhor das hipóteses, têm uma validade relativa.”
http://olavodecarvalho.org/a-palavra-gatilho/
Se analisarmos o termo Parto Humanizado, rapidamente percebemos que o mesmo anula a possibilidade de um nome aceitável para alguma corrente diferente e dispara um gatilho emocional que desqualifica automaticamente qualquer opinião contrária.
No livro Como Vencer um Debate sem Precisar de Razão, de Arhur Schopenhauer, o estratagema 32, o rótulo odioso, define bem Parto Humanizado pois indica um modo fácil de invalidar a opinião contrária – que é apropriar-se do bem e das virtudes – reduzindo o pensamento diferente a uma categoria definitivamente detestada.
Quem seria contra a quaisquer conjuntos de práticas que visam humanizar a atenção ao parto? Ninguém! Todos somos a favor de uma gestação digna e confortável para mãe e bebê, de condições seguras e bem embasadas tecnicamente e de profissionais que tratem as personagens principais com esmero e empatia. Do contrário, existem ferramentas legais que devem ser acionadas a despeito do corporativismo da profissão.
O perigo real do Parto Humanizado está no campo da militância médica pois, na prática, um bom obstetra, no anonimato das suas circunstâncias, conduz a situação da forma que realmente deve ser conduzida.