O paciente bomba-relógio e o médico Peter Pan

Quando o Capitão Gancho foge do crocodilo, ele está, de fato, apenas seguindo o curso normal da sua vida. Afinal, ele sabe que aquele crocodilo que já arrancou–lhe uma mão – a mão do relógio – e segue o perseguindo ao som do tique-taque que o amedronta, um dia conseguirá pegá-lo.

A vida é assim. O tempo segue em frente, implacável, e tirando a nossa juventude e as nossas mãos. E esta luta visceral contra o tempo é que é a vida humana. A única vida que nós temos.

A opção de viver como Peter Pan na Terra do Nunca, sem envelhecer, é um devaneio e o efeito colateral desta fanatasia é acreditar que algumas pessoas têm o tempo sob algum tipo de controle humano.

Quando você diz para um paciente que ele é uma bomba-relógio, acreditando que suas comorbidades o reduzam a uma explosão a curto prazo, o mistério que é a vida humana também é reduzido, só que a uma mera simbologia oca. 

E símbolos ocos a Medicina dispensa.