Em janeiro de 1922, Leonard Thompson, com apenas 14 anos, voltou à vida 24 horas após a injeção de insulina venosa. Tal produto químico foi desenvolvido pelo ortopedista – sim, ortopedista! – Frederick Banting.
Em 1934 nasceu David Sackett, pesquisador principal de grandes estudos que mostraram pela primeira vez os benefícios da aspirina para tratamento de doenças cardiovasculares.
Banting ganhou o prêmio Nobel da Medicina.
Sackett criou a Medicina Baseada em Evidências (MBE).
E eu?
Eu entrei para o curso de Medicina em 2000.
Eu via Banting quando prescrevia insulina para a mocinha com cetoacidose diabética e testemunhava, com meus próprios olhos, a sua vida sendo salva.
Eu acreditava em Sackett quando oferecia aspirina para aquele senhor que parou de mexer o lado direito do corpo.
Mas algo me incomodava em Sackett até que li seu artigo de 1996 intitulado Medicina baseada em evidências: o que é e o que não é? (BMJ 1996;312:71). Neste artigo brilhante, Sackett afirma que a MBE é a junção da experiência clínica – proficiência e julgamento que o médico adquire ao longa da vida pela prática clínica – com o que há de melhor nas evidências teóricas externas com o objetivo de cuidar de um indivíduo de carne e osso. Ele ainda prevê que a MBE será infértil e perigosa caso anulemos a experiência concreta do médico.
Sackett não me incomoda mais. Precisamos dele e de Banting para tratarmos de Thompson.
Eu vejo Benting, acredito em Sackett e cuido de Thompson.